sexta-feira, 15 de julho de 2011

RESENHA DO TEXTO: PROCEDIMENTOS NAS OFICINAS DE TRABALHO VIOLA SPOLIN. MUITO INTERESSANTE!


PROCEDIMENTOS NAS OFICINAS DE TRABALHO
VIOLA SPOLIN



O capítulo 2: Procedimentos nas oficinas de trabalho do livro Improvisação para o teatro de Spolin: SP, Perspectiva de 1982. Spolin é de cidadania norte-americana, autora e diretora de teatro.
Esse texto nos remete a pensar num sistema de trabalho, um esquema de procedimentos com o objetivo de juntar informações e experiências para que possamos compreender o teatro em seus modos de produzir resultados conscientes ou inconscientemente como um sistema. É claro que em alguns professores-diretores considerados altamente habilitados, isto é tão intuitivo que eles não têm fórmulas.
Esse capítulo do livro pretende ainda compreender o processo orgânico que faz com que, o teatro se torne vivo. Um dos meios que podemos encontrar para sua vitalidade é a improvisação da cena. A improvisação nasce do encontro e na coesão de um ator atuando com o outro e na atuação do presente, que esta em constante transformação. A qualidade da improvisação está na vitalidade empregada pelos alunos e no processo no qual eles estão atravessando e experienciando com a espontaneidade, crescimento orgânico e resposta intuitiva.
É importante salientar que o professor-diretor deve organizar o material para treinamento das convenções do teatro e como podemos todos permanecer fora da rotina e encontrarmo-nos no campo do ainda desconhecido. Quer dizer que o professor diretor deve manter um duplo ponto de partida em relação a si mesmo e aos alunos:
- Observar a manipulação do material apresentado;
- Ser cuidadoso e examinador para verificar se o material está atingindo um nível de resposta mais profunda: o intuitivo.
Para evitar que a palavra, intuitivo, torne-se vazia, propomos que entendamos como área de conhecimento que está além das restrições do intelectualismo. É ao invés disso a liberdade da mais pura humanidade que esta dentro de nós e de nossos alunos. Spolin completa ao dizer que dessa forma, não haverá o perigo de que o sistema se torne em um sistema.
Os problemas que por ventura podem surgir ou que podem ser levados para os alunos solucionarem são usados nas oficinas de trabalho como técnica de solução de problemas e dá um foco objetivo mútuo ao professor e ao aluno. Isso faz com que o professor e o aluno ou vice-versa passe pelo outro somente para aprender, criando uma dependência entre os dois.
A técnica de solução de problemas proporciona a ambos o contato direto com o material, desenvolvendo o relacionamento e tornando a experiência possível para que as pessoas trabalhem juntas. Essa técnica evita a crítica do professor em termos de aprovação/desaprovação e de que o aluno ou o aluno-ator mantenha-se em velhos quadros de referência, com comportamentos e atitudes imutáveis.
A solução de problemas estimula o questionamento dos procedimentos em momento de crise e mantém todos os participantes abertos para a experimentação, até mesmo por que não há um momento certo ou errado de solucionar os problemas, sendo assim, o trabalho contínuo e a solução dos problemas abre cada um para sua própria fonte e força.
O professor-diretor é o líder do grupo, tornando-se o diagnosticador. Ele deve sempre estar em alerta para trazer novos problemas de atuação para solucionar qualquer dificuldade que possa aparecer, desenvolvendo suas habilidades para descobrir aquele problema que funcionará mais exatamente para o aluno.
O ponto de concentração nesse sentido libera a força grupal e o gênio individual O seu uso pode ser variado e nas oficinas de trabalho ele ajuda a explorar segmentos que sejam complexos. Dá o foco que proporciona o desbloqueio do aluno em trabalhar diante de uma crise, na medida em que elas aparecem, enfrentando aquilo que se apresenta, sem hesitar. Permite ao aluno a capacidade de envolvimento com o problema e relacionamento com seus companheiros na solução do problema. Atua como catalisador entre um jogador e outro, entre jogador e o problema. O foco usado na solução de um problema libera o aluno para a espontaneidade, levando-o para uma experiência mais orgânica do que cerebral, tornando possível a percepção e atua como um meio para chegar ao intuitivo, uma vez que se quebram as paredes que os separam do desconhecido de nós mesmos e dos outros. A combinação de indivíduos focados e envolvidos mutuamente cria o relacionamento verdadeiro, o compartilhar de uma nova experiência, assim a energia individual é liberada, a confiança é gerada, a inspiração e a criatividade aparecem quando todos jogam e solucionam o problema juntos.
Para que o Ponto de concentração se torne parte integrante de nós mesmos e de nosso trabalho, requer tempo, desistir do que nos é familiar, embora reconheçamos o seu valor.
Alguns alunos podem demonstrar resistência em trabalhar com a concentração e não será capaz de improvisar por ter um problema disciplinar, já que a improvisação é a abertura para entrar em contato com o ambiente e permitir que os outros atuem sobre a realidade presente, como num jogo. Essa resistência pode ser superada quando o aluno perceber que o modo de trabalho não é uma ameaça a ele, nem a sua individualidade, assim sendo, resultará em maiores habilidades teatrais e num auto-conheciemnto mais profundo.
A avaliação se realiza depois que cada time terminou de trabalhar com um problema de atuação. É o momento para estabelecer um vocabulário objetivo e comunicação direta, tornada possível através de atitudes de não julgamento, auxílio grupal na solução de um problema e esclarecimento do Ponto de Concentração. Quando o aluno se entrega a uma nova experiência, ele confia no esquema e dá um passo ao encontro do ambiente.
A confiança mútua torna possível para o aluno empenhar-se na realização de uma boa avaliação. O tipo de avaliação feita pelo aluno da platéia depende da sua compreensão do Ponto de Concentração e do problema a ser solucionado.
A avaliação deve versar sobre o que realmente foi comunicado, não sobre o que foi preenchido, não é uma interpretação pessoal sobre o que deveria ser feito.
Quando o aluno da platéia compreende seu papel, passam de observadores passivos a participantes ativos no problema.
  A instrução dá auto-identidade e age como um guia enquanto se está trabalhando com um problema dentro de um grupo. É método usado para que o aluno-ator mantenha o Ponto de Concentração sempre que ele parece estar se desviando. A instrução mantém a realidade do palco viva para o aluno-ator e faz com que o professor-diretor trabalhe com o problema junto com o aluno, tomando parte no esforço grupal.
A instrução atinge o organismo total, pois desperta a espontaneidade a partir do que está acontecendo no palco. Mantém o aluno no momento presente, no momento do processo, consciente do grupo e de si mesmo dentro dele. A instrução também é usada para terminar um exercício quando necessário.
Todos os exercícios são feitos com times escolhidos aleatoriamente, por exemplo, a formação de grupos através de contagem.
O professor ou professor-diretor é aconselhado a apresentar o problema de atuação rápida e simplesmente, esclarecendo o Ponto de concentração, não dizer o porquê que eles recebem um determinado problema, explicando brevemente o material a ser utilizado para que os alunos se descubram.
Quanto à composição física das oficinas de trabalho, o ambiente, ou seja, a atmosfera existente dentro desta composição física é propiciada, como oportunidade para desenvolvimento de habilidades com experiências teatrais. A atmosfera durante as oficinas de trabalho deve sempre ser de prazer e relaxamento. Espera-se que os alunos-atores absorvam não somente as técnicas obtidas na experiência de trabalho, mas também os climas que os acompanham.
Os alunos ou alunos-atores devem tomar suas próprias decisões e compor seu próprio mundo físico sobre o problema que lhes é dado. Os jogadores criam sua própria realidade teatral e tornam-se donos de seus destinos, por assim dizer.
O sentido de tempo é dado para que haja uma relação entre tempo, concentração, produção e resultado. A instrução do tempo tem como objetivo determinar o tempo para que resolvam os problemas, dando um sentido intuitivo de ritmo e percepção.
Faz-se necessário nesse processo, evitar rótulos, pois permite libertar o ator e compartilhar o seu próprio modo original. Impor um rótulo antes que seu significado orgânico esteja completamente compreendido evita a experimentação direta e não há dados para analisar. O rótulo impede o processo.
Deve-se evitar o Como, o pré-planejamento, pois, resulta na continuação de seus velhos padrões de trabalho. O verdadeiro desempenho abre os jogadores para experiências mais profundas. O pré planejamento é necessário até o ponto em que os problemas devem ter uma estrutura. A estrutura é o onde, quem e o quê, mais o Ponto de Concentração. É o campo sobre o qual o jogo se realiza. Como o jogo será encaminhado só pode ser conhecido depois que os jogadores estiverem em campo.
Sobretudo, esse capítulo apesar de abordar aspectos relativos à arte, o teatro especificamente, é possível levarmos alguns pontos abordados nesse capítulo para outras realidades sociais, outros âmbitos da nossa vida, no qual o professor-diretor ou o aluno-ator poderiam ser substituídos por aluno e professor numa escola, por exemplo, ou poderiam assumir outros papéis sociais. Esse capítulo é muito interessante por nos permitir refletir a importância das oficinas de trabalho. Essa proposta que Spolin traz é pertinente para que nos conscientizemos que é possível o aprendizado utilizando a arte como instrumento norteador e de contribuição também em propostas pedagógicas.


AUTORA DA RESENHA: PATRICIA ARIANE S. LIMA.

REFERÊNCIA:

·         SPOLIN, Viola. Improvisação para o teatro: Capítulo 2, Procedimentos nas Oficinas de Trabalho. SP – Perspectiva, 1982.

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